Crescendo desde o início dos anos 2000, a safra de grãos brasileira voltou a ser recorde em 2013. A estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que ela fechará o ano em 186,8 milhões de toneladas. A supercolheita teve reflexos nas exportações, especialmente de milho e soja. O milho se beneficiou novamente da quebra de safra nos Estados Unidos e deve encerrar o ano com venda de 25 milhões de toneladas. No caso da soja, as exportações devem ficar em 43 de milhões de toneladas contra a previsão inicial de 38 milhões. Os dois produtos ajudaram a absorver os danos causados à balança comercial pela queda na produção e vendas externas de petróleo este ano. “O agronegócio foi nossa sorte. Era uma receita que não estava prevista”, comenta José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). Castro destaca, no entanto, que a entidade estima que haverá queda no preço para algumas commodities em 2014, entre elas a soja e o milho. Para a soja em grão, a projeção é que o preço recue dos atuais US$ 540 por tonelada para US$ 490. Para o milho, a previsão de recuo é de US$ 197 para US$ 180 por tonelada.
De acordo com o presidente da AEB, o motivo para a variação do preço é que a produção agrícola tem sido grande nos últimos anos. “O mundo está se acomodando. Sobram soja, cana [açúcar e etanol], café e milho. Você tem uma oferta superior à demanda”, analisa. Com a expectativa de queda de preços, o setor privado está apostando na retomada da produção de petróleo para alavancar a balança comercial no próximo ano.
O IBGE prevê ainda que a safra de grãos fique estagnada em 2014, embora em patamares elevados. De acordo com o levantamento mais recente do órgão, a colheita do ano que vem deve superar a de 2013 (186,8 milhões de toneladas) em apenas 63.363 toneladas. A estimativa difere da divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que espera colheita de 195,9 milhões de toneladas. A Conab, no entanto, usa como referência o ano-safra 2013/2014, enquanto o IBGE trabalha com o ano civil 2014. Apesar dos prognósticos, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, não acredita em desaquecimento das exportações do agronegócio. “Estamos com margem elevada, poderíamos até absorver [queda de preços]. Mas achamos que [o mercado] continuará aquecido no mínimo pelos próximos dois anos. Temos previsão para crescimento da população mundial até 2030, o que vai aumentar a demanda por alimentos”, disse. Geller destaca que o Brasil possui áreas disponíveis para expandir a produção agrícola, atualmente em 60 milhões de hectares. “Quem pode suprir essa demanda [por alimentos] é o Brasil”, afirmou.
O secretário atribui o aumento da produção desde o início dos anos 2000, quando estava na casa das 100 milhões de toneladas, à mecanização do setor agrícola e ao investimento em pesquisa, que aumentou a produtividade. Para ele, o crédito facilitado e a juros baixos concedido aos produtores rurais também contribuiu para a expansão. Geller reconhece, no entanto, que a infraestrutura de armazenamento e transporte ainda é um gargalo para as exportações agrícolas. “A logística não acompanhou a velocidade do aumento [da produção]. Mas o governo está fazendo todos os esforços”, disse, citando iniciativas como a concessão de ferrovias e rodovias à iniciativa privada.
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