Por Rodrigo Vieira
Promotor de Justiça
Promotor de Justiça
Os fatos falam por si só.
Há mais de 15 dias vinha me preparando intensamente para um Júri em que iriam a julgamento 11 réus, sendo 10 deles policiais militares, inclusive, um Tenente-Coronel, ex-comandante da Brigada Militar em Uruguaiana: em 1995, foi morto um cidadão, depois de arrebatado da própria casa, durante a madrugada, e assassinado com 19 tiros, com partes do corpo queimadas e outros requintes de perversidade, tudo por “engano”, vez que a vítima tinha semelhança física com o autor da morte de um brigadiano.
Processo com 31 volumes, 5.500 folhas, centenas de declarações.
Dias atrás, os advogados dos réus fizeram pedido de cisão do julgamento, alegando que alguns dos acusados se contradiziam. Fui contra. E o juiz indeferiu, mantendo a regra da unicidade do julgamento.
Ontem, 18h20min, véspera do Júri, o advogado de um dos réus apresentou atestado médico, onde consta que estaria com pneumonia dupla, acarretando o adiamento do julgamento.
Ocorre que entrou em cena o facebook: eis que a digníssima esposa do adoentado advogado publicou as fotos do passeio que fez com o marido e um grupo de amigos em Buenos Aires durante o feriado de quinta-feira, dia 23/06/2011, e o final de semana, inclusive com registro de momentos em que se deleitavam na boa gastronomia portenha e nos saborosos vinhos platinos (e o degas aqui varando noites em claro, estudando o processo!). Outro detalhe que não escapou aos registros fotográficos veiculados no facebook: o médico que atestou a grave moléstia que acometeu o causídico integrava o grupo que excursionava pela capital argentina.
Ora, um profissional com um pingo de responsabilidade, que, tendo de enfrentar um Júri desse porte, defendendo um réu acusado dos três crimes em julgamento (um homicídio qualificado consumado e outro tentado e o incêndio de três casas), não iria, nas vésperas do Júri dar-se o luxo de perambular despreocupadamente pelas charmosas avenidas bonairenses, salvo se tivesse certeza de que contrairia essa providencial pneumonia.