O Comando do 22º GAC/AP entrou em contato com nossa reportagem manifestando-se sobre a morte do soldado Taylor Barbosa. Segundo o tenente coronel Marinho, comandante do 22º GAC/AP, o Taylor estava de serviço no dia 1º de fevereiro quando se sentiu mal e foi levado ao Pronto Socorro Municipal. Segundo Marinho, o médico plantonista diagnosticou apendicite e liberou o soldado que, no dia seguinte, persistindo as dores, procurou novamente por socorro médico. Ainda segundo o comandante Marinho, Taylor foi hospitalizado e, após exames, uma junta médica constatou se tratar de endocardite infecciosa, que atinge o endocárdio - a camada mais interna do coração.
Sem UTI coronariana, a junta optou por transferir o paciente a Ijuí. Ele foi transferido no dia 7 e faleceu no dia 11, devido a gravidade do caso. O tenente coronel Marinho ressalta que o Exército esteve empenhado em salvar o militar e que a bactéria pode ter sido adquirida em qualquer lugar, desde que tivesse ocorrido contato direto da mesma com a corrente sanguínea.
Endocardite
Endocardite é uma infecção que atinge parte da membrana que encobre as válvulas cardíacas. Pode atingir também várias partes do coração. Infecções de origem dentária estão entre as principais causas da endocardite infecciosa. Pode ter origem bacteriana, após uma bacteremia. A endocardite infecciosa é a infecção do endocárdio por microorganismos. O endocárdio é a camada mais interna do coração. A endocardite forma-se geralmente quando uma bactéria circulante na corrente sanguínea se aloja em uma das válvulas, multiplicando-se e formando o que chamamos de vegetação valvar. A vegetação das válvulas é um emaranhado de bactérias, glóbulos brancos, glóbulos vermelhos, fibrinas e restos celulares.
Gravidade da endocardite bacteriana
Se não reconhecida e tratada a tempo, a endocardite infecciosa destrói a válvula acometida levando o paciente a um quadro de insuficiência cardíaca aguda e grave Além da insuficiência cardíaca, a endocardite também causas outras complicações. Muitas vezes o paciente vai ao óbito por sepse antes mesmo de haver tempo para que ocorra alguma lesão grave da válvula. Coágulos de sangue misturado com vegetações podem se desprender da válvula e viajar até pulmões, cérebro ou qualquer outra região do corpo, causando embolia pulmonar, AVC, e infartos à distância. Esses pedaços de vegetação que se soltam são chamados de êmbolo séptico.
Nos rins, além do infarto renal pela embolização da vegetação, a endocardite infecciosa também pode provocar um quadro de glomerulonefrite, evoluindo com insuficiência renal aguda e necessidade de hemodiálise.
Portanto, já deu para perceber a potencial gravidade da endocardite, não sendo de se estranhar que as esta infecção tenha uma mortalidade próxima de 30% (quase um em cada três pacientes com infecção das válvulas cardíacas evoluem para o óbito).
As endocardites infecciosas causadas pela bactéria Staphylococcus aureus são mais graves e mais agudas, enquanto que as endocardites causadas pela família das bactérias Streptococcus e Enterococos são mais subagudas (quadro mais arrastado) e têm taxa de mortalidade menor.
Como surge a endocardite?
Nosso sangue é habitualmente estéril, não contendo germes circulantes. Quando uma bactéria alcança a corrente sanguínea, damos o nome de bacteremia.
A bactéria é o evento mais importante e essencial para o surgimento da endocardite. Este é um dos motivos pelo qual não se deve atrasar o tratamento de infecções, seja dentária, na pele, ou em qualquer outro ponto do corpo. Quanto mais tempo uma infecção existe, maior é o risco destes germes alcançarem a circulação sanguínea.
Se por um lado a bacteremia é um fator necessário, por outro, nem toda bactéria que circula no sangue se aloja no coração.
Sintomas da endocardite bacteriana
O quadro clínico é muito variável, podendo o paciente apresentar desde sepse grave e insuficiência cardíaca nas endocardites agudas, até quadros mais arrastados de febre de origem obscura nas endocardites subagudas.
Os sintomas mais comuns são febre e calafrios. Outros sintomas inespecíficos de infecção também são comuns na endocardite subaguda, como falta de ar, cansaço, perda do apetite, dores pelo corpo, suores noturnos, etc.
Nos quadros graves de endocardite aguda, a febre e os calafrios são intensos e o paciente rapidamente evoluiu com sinais de insuficiência cardíaca, como intensa falta de ar, principalmente quando se deita, e edemas nas pernas.
A história clínica, identificando fatores de risco, associado a um quadro de febre sem causa aparente, calafrios, queda do estado geral, surgimento de sopro cardíaco e sinais de embolização periférica costumam sugerir o diagnóstico de endocardite.
O diagnóstico é geralmente feito através do ecocardiograma, identificando a presença de vegetações em uma das válvulas do coração. Em alguns casos pode ser necessária a realização do ecocardiograma transesofágico, feito por via endoscópica.
Tratamento da endocardite
O tratamento da endocardite é feito obrigatoriamente com antibiótico por via venosa por no mínimo quatro semanas. Nos casos onde há destruição da válvula cardíaca pela infecção, uma cirurgia de troca valvar é necessária, com implantação de uma válvula artificial.
E quais são os procedimentos de risco?
- Procedimentos dentários com manipulação de gengiva, mucosa oral ou região periapical dos dentes.
- Procedimentos respiratórios que envolvam incisão ou biópsia, como broncoscopia com biópsia, remoção de amígdalas ou adenóides.
Procedimentos gástricos e urinários, como endoscopia, colonoscopia, colocação de cateteres duplo J, biópsia ou cirurgia de próstata não são procedimentos de risco para endocardite.