A termelétrica AES Uruguaiana não retomou a produção de energia nesta terça-feira, como se esperava, pois ainda não recebeu o gás que viria da Argentina, e por esta mesma razão sequer os testes com o combustível, que antecedem a geração comercial, foram realizados. Nem AES Uruguaiana, nem Sulgás, Ministério de Minas e Energia e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), envolvidos nas negociações para a reativação da termelétrica, divulgaram os motivos do não recebimento do combustível.
A termelétrica, inoperante desde o ano de 2009, foi preparada às pressas para retomar a produção de energia ante a crise que assola o país, e permanece sem previsão de retomada da operação que, para o ONS, seria nesta quinta-feira. Conforme a AES, após o comissionamento a empresa teria ainda um prazo de sete dias para iniciar a primeira fase da produção comercial, gerando 164 MW, passando para 350 MW em uma segunda etapa – a AES Uruguaiana tem capacidade de 639 megawatts (MW).
Especula-se que um dos motivos para a demora no abastecimento de gás seria a complexidade dos contratos que envolvem uma série de partes, entre companhias do país vizinho, empresas nacionais e órgãos do sistema elétrico brasileiro. Especialistas na área, entretanto, acreditam na possibilidade de que a complicação esteja no aumento do preço do GNL no mercado mundial devido ao maior consumo no Hemisfério Norte, onde é inverno.
O acordo entre os governos do Brasil e da Argentina previa que, de navio, a Petrobras levaria carregamentos de GNL até um terminal de gaseificação na Argentina, onde ele seria transferido para o gasoduto e importado pela Sulgás, até a usina em Uruguaiana. – O que pode estar ocorrendo é a Petrobras ter dificuldade para disponibilizar essa carga de GNL na Argentina, aponta Marco Aurélio Tavares, presidente da consultoria Gas Energy. Na mesma pista, o coordenador da área de energia da Agenda 2020, Ronaldo Lague, entende que o motivo do silêncio e da falta de informações sobre os termos do contrato e o preço do gás que chegará a AES Uruguaiana pode ser o alto custo da operação. – Essa não vai ser uma energia baratinha. E isso vai chegar ao bolso do consumidor – alerta Lague, lembrando que a operação da usina é importante para assegurar o equilíbrio da tensão na Fronteira Oeste do Estado.
Uma teleconferência prevista para hoje entre representantes da AES Uruguaiana, Sulgás, ONS e ministério pode produzir novidades sobre o impasse. Enquanto isso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou ontem o funcionamento temporário da Usina para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Além da retomada da geração na AES Uruguaiana, pelo menos outros dois projetos existem no Rio Grande do Sul:
- Uma termelétrica a gás com capacidade para 1,2 mil megawatts (MW) está prevista no projeto de construção de um terminal de regaseificação do grupo Bolognesi, em Rio Grande, no sul do Estado. Para se tornar realidade, o investimento de US$ 1,3 bilhão ainda depende de estudos e, depois, da venda de energia em leilão.
- Outra usina térmica integra projeto de US$ 5 bilhões que inclui ainda uma unidade de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) e fábrica de fertilizantes. O empreendimento, ainda em fase de estudo, tem participação do governo gaúcho, da Sulgás, da Petrobras, da Hyundai e da Samsung. Inicialmente, era previsto para ser construído em Rio Grande, mas pode ir para Tramandaí.