segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

UM MARCO PARA A HISTÓRIA


Quando publicamos a obra “Regimento Dragões do Rio Grande – Evolução histórica do 4º Regimento de Cavalaria Blindado” em 2001, da cidade de São Luiz Gonzaga, uma das mais antigas Unidades da Arma de Cavalaria em nosso estado, realizando as várias “pesquisas de campo” deparei-me com um emocionante fato sobre o grande Marechal Manoel Luiz Osorio, Marquês do Herval e patrono da Arma de Cavalaria, durante sua brilhante carreira militar, acontecido na região da Barra do Quaraí. Ao ser promovido ao posto de Tenente em 12 de outubro de 1827 para o 5º Regimento de Cavalaria (hoje 4º RCB), sediado na cidade de Bagé, teve sua unidade transferida para Rio Pardo, onde permaneceu até 1834.
A fama do jovem oficial de apenas 20 anos de idade, já corria o mundo, causando entre as moças da sociedade local, grande interesse por ouvirem falar a seu respeito, narrativas de heroísmo e bravura.
J.B. Magalhães, um dos mais completos biógrafos de Osorio, narrando sua vida amorosa nesse período, que talvez tenha sido um dos grandes infortúnios na vida de Osorio, o relacionamento com uma jovem chamada Ana, e a quem Osorio apelidou-a de Lídia, musa inspiradora de seus versos. Apesar da imposição da família da jovem, sob a alegação de que Osorio, como Tenente, não teria condições de garantir a vida promissora de Ana, continuou esse romance, não desanimando. O pai da jovem, um rico fazendeiro daquela região, com forte influência na Corte, intercedendo junto ao Comandante das Armas, consegue a transferência de Osorio para os destacamentos de fronteira.
Sem esquecer sua amada, parte Osorio para sua árdua missão, em guarnecer as fronteiras da Província.
Os pais de Ana, preocupados em zelar pela filha e tratando de apagar as lembranças de seu grande amor, divulgam a notícia de que Osorio havia morrido, fazendo-a casar-se com um pretendente rico.
Alguns anos mais tarde, sabendo da verdadeira trama, a jovem foi definhando até a morte e, quando preparavam seu corpo para o sepultamento, descobriram em seu peito, sob o coração inerte, um nome: Osorio.
Sabedor de todo o enredo e da morte de seu grande amor, Luiz Osorio mergulha, tristemente, pelos caminhos de seus inspirados versos que compõe.
Muito embora curtindo as duras mágoas, exerceu comissões durante dois anos, iniciando em 2 de agosto de 1831, destacado nesta região, na linha fronteiriça formada pelo rio Quarai.
Grassava, naquela época, uma onda de vandalismo e contrabando na fronteira, com elevado número de arruaceiros em Bella União, do lado Cisplatino, povoação que se criara com os índios trazidos das missões pelo Gen. Frutuoso Rivera, que constantemente cruzavam nossas divisas, onde roubavam gado, matavam, incendiavam propriedades e retornavam àquela povoação impunes, sem que ninguém ousasse detê-los.
Do lado brasileiro, hoje município emancipado da Barra do Quarai que, conforme sua história teria iniciado com a instalação de uma Guarda Portuguesa por 1814, era determinado, pelo Governo Imperial Brasileiro, de garantir a defesa do território conquistado, apesar das frequentes investidas espanholas na área. A atual cidade da Barra do Quarai, foi elevada a categoria de Vila, em 31 de março de 1938, sendo desmembrada, como 2º Distrito de Uruguaiana, pela sua emancipação como cidade, em 28 de dezembro de 1995, pela Lei Estadual nº. 10.655/95.
Naqueles idos de 1831, os poucos habitantes da região, cansados pelos maus tratos desses bandoleiros, apelam pela ajuda do Comandante do Destacamento da Guarda desta fronteira, sendo atendidos por Osorio que determina aos seus comandados a missão de abater ou prender tais arruaceiros.
Apesar de reiteradas recomendações do Império com respeito à soberania vizinha, Osorio, resoluto, teve a necessidade de reprimir com violência o vandalismo que imperava nesta região. Sob seu Comando e transpondo a fronteira do velho rio Quarai, surpreende os assaltantes ainda com os produtos de roubo. Dizima todos no local, inclusive mulheres que portavam armas e enfrentaram sua escolta militar.
Consequentemente, em 8 de janeiro de 1832, Osorio foi preso pela sua atitude, porém a opinião pública e o bom conceito estavam a favor do jovem Comandante que, após quase um ano foi solto e nada ficou constando em sua fé de ofício que viesse empanar o brilho de sua carreira. Conforme extrato de sua “fé de ofício”, enviada pela Divisão de história, do Arquivo Histórico do Exército, Osório foi solto em 11 de dezembro, “por falta não comunicada ao Corpo”. Comenta-se que este fato, produzido pela integração corajosa de seu caráter, marca em sua trajetória, regada por um grande sentimento amoroso, a frase que certa vez dissera: “A FARDA NÃO ABAFA O CIDADÃO NO PEITO DO SOLDADO”.
Durante a realização do “Projeto pró-memória histórica das propriedades rurais”, de minha autoria, para o livro “AS ESTÂNCIAS CONTAM A HISTÓRIA – URUGUAIANA”, encontrei na região de Pay-Passo (do Espanhol: Passo dos padres), a beira do rio, uma velha trincheira, completamente encoberta pela vegetação e arvoredo. Sempre me suscitou dúvidas a sua origem. Não poderia afirmar o motivo porque foi construída, nem porque força militar ou paramilitar que ali esteve. Moradores antigos comentam terem encontrado cápsulas de munições e restos de metal, como se tivesse havido um paiol de munições. 
Teria sido o acampamento de Osorio? Ou alguma outra força imperial? 
- Quem sabe um dia a história irá nos comprovar esta dúvida, pois pelo que contam ainda a tradução oral dos moradores daquele local, existe a entrada de um fosso naquela trincheira.
Em 2008, quando se comemorava nacionalmente os duzentos anos de nascimento de Osório e que culminava com a data de seu falecimento, levamos ao conhecimento do então Comandante da 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, Gen. Ricardo de Matos Cunha, para que fosse perpetuado na Região da Barra na localidade do Pai Passo, um marco que demarcasse a área em que Osório esteve acantonado, comandando uma pequena guarda.  E foi no dia 4 de outubro (data do seu falecimento), realizou-se uma grande cavalgada pelo 8º RCMec, alguns integrantes do 5º RCMec, 6º RCB e gaúchos civis, com saída do Circulo Militar de Uruguaiana, e ao termino da cavalgada, no local determinado, foi realizada uma missa crioula e inaugurado um pequeno marco, com a imagem de São Jorge, padroeiro da Cavalaria, para perpetuar as façanhas deste vulto da nossa história, onde podemos ler ainda, na placa o seguinte: “É fácil a missão de comandar homens livres, basta mostrar-lhes o caminho do dever” – Nesta região da Barra do Quaraí, de agosto de 1831 a janeiro de 1832, comandou um “Destacamento de Fronteira”, o Tenente Manoel Luis Osorio, hoje Marechal Patrono da Arma de Cavalaria, defendendo a fronteira. Barra do Quaraí, RS, 04 de outubro de 2008. Comando da 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada – Liga de Defesa Nacional – Academia de história militar terrestre do Brasil”.

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