
Outras seis pessoas que dizem morar em Barra do Quaraí foram localizadas em Bella Unión. Entre elas está Adalberto, que registrou como residência um terreno baldio. Outra casa, que pertence ao pedreiro André Ferreira, é a campeã no ranking dos endereços falsos. Mais de 30 pessoas afirmam morar no local. O verdadeiro proprietário diz não fazer parte do esquema. Ainda, três pessoas aparecem como moradores em um terreno onde existe apenas uma caixa d`água. Conforme documentos fornecidos pelo Ministério Público, outras quatro dizem morar em um local onde há apenas uma antena de telefone. “Não tenho conhecimento nenhum que tenha alguém morando nesse local. Nunca morou ninguém”, afirma o aposentado Arlindo Simionato.
No cemitério de Barra, outra fraude desvendada. Saques em nome de Márcia Ortiz Dedéco, falecida em março de 2010, foram realizados até janeiro deste ano, de acordo com o Portal da Transparência. A irmã de Márcia, Cláudia Ortiz Dedéco, trabalha desde 2004 na Secretaria de Assistência Social do município, onde são feitos os cadastros para receber o Bolsa Família. Ela seria uma das responsáveis pelo programa na cidade, mas não soube explicar por que os valores continuaram sendo pagos à irmã. Cláudia não quis gravar entrevista.
Segundo Danilo, o Bolsa Família era um benefício direcionado à filha da Márcia, de 14 anos, que continuou recebendo os valores, pois Márcia faleceu no Uruguai e no Brasil não houve atualização. Danilo explica que a atualização é feita a cada dois anos e que a menor estaria prestes a perder o benefício, que só foi conquistado devido a filha ser menor de idade e carente.
Na lista do Bolsa Família no município também estão 29 funcionários da prefeitura. Estagiários, auxiliares administrativos e até pessoas com cargos de chefia fazem parte da relação. É o caso de Eliane Senoranes, que aparece em documentos oficiais como chefe da seção. “Sou eu que recebo, eu mesmo. Quando me inscrevi, não trabalhava, era desempregada e permaneci”, justificou a colaboradora.
O vice-prefeito da cidade, Danilo Rodrigues, não vê problema em contemplar funcionários públicos. “O cidadão pode estar trabalhando na prefeitura ou numa empresa particular, mas a renda pode ser divida pelo número de pessoas que residem no domicílio. Se for inferior a R$ 140, a pessoa tem direito ao benefício do Bolsa Família”, argumenta Rodrigues.
Porém, Eliane recebe um salário de R$ 787,79, tem uma filha e mora com os pais, donos de um armazém. Mesmo que ninguém mais trabalhasse na família, e todos dependessem dela, ainda assim a situação não se encaixaria nas regras do programa.
O esquema já está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Para ambos, os problemas no município gaúcho estão diretamente ligados a fraudes eleitorais. “Uruguaios ganham Bolsa Família, ganham aposentadoria e, em troca, se inscrevem como eleitores. Na próxima eleição, dão o voto a quem presta esse favor”, defende o promotor Rodrigo de Oliveira Vieira.
Danilo confirma a existência de esquema envolvendo políticos ao benefício de aposentadoria. Ele conta que é comum políticos auxiliarem brasileiros que residem em Bella Union a ter acesso ao benefício, conquistando desta forma mais um voto. “Isso é comum aqui na Barra. Não fizemos, mas sabemos de um ou outro que faz”, disse Danilo ao Jornal CIDADE.
A Polícia Federal quer descobrir quanto dinheiro público foi gasto com pessoas que não poderiam ser contempladas. “O que fica identificado é que a fraude está ocorrendo, comprovadamente, trazendo prejuízo a brasileiros que efetivamente necessitam do benefício, que não têm como sobreviver”, ressalta o delegado André Luiz Epifânio.
O programa Bolsa Família completou dez anos em outubro. Desde 2003, quando foi criado pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o número de beneficiados passou de um milhão para 14 milhões.
O prefeito Iad Sholi encaminhará nota oficial aos meios de comunicação.
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