Chuvas acima da média em outubro atrasam plantio e parte da área deve ser feita fora do zoneamento
Nestor Tipa Júnior
As chuvas no mês de outubro atrapalharam a expectativa dos produtores de arroz de uma safra de grande volume e produtividade. O plantio, que até a primeira quinzena de outubro andava com velocidade acima da média histórica, estagnou em 60% da área projetada de 1,09 milhão de hectares, de acordo com os dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Conforme o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, o mês passado, período ideal de plantio, teve uma primeira quinzena com grandes avanços na área, mas depois a perspectiva foi invertida. Mesmo com pausas nas precipitações, poucas regiões retomaram os trabalhos após o período de chuvas acima da média, o que deve comprometer o prazo de plantio dentro do zoneamento, que termina na primeira quinzena de novembro. “Não se tem a expectativa de que a área restante seja plantada no período ideal. Teremos parte da área plantada fora de época, além do replantio de lavouras”, justifica.
Os problemas climáticos, de acordo com o dirigente da Federarroz, também trouxeram danos para o estabelecimento da lavoura, como a não germinação de sementes pelo excesso de chuvas, obrigando o replantio destas áreas e aumentando o custo de produção, como reconstituição de curvas de nível. Em outras áreas, há desuniformidade no nascimento das plantas e já são registrados ataques de pássaros nas lavouras. “Também temos muitos relatos da ocorrência de arroz espontâneo excessivo, que é quando o grão cai na colheita e vem a emergir durante o plantio seguinte, podendo comprometer a colheita pelo número de plantas em demasia”, observa.
Além disso, o crédito também vem trazendo problemas aos produtores de arroz. A greve dos bancários, ocorrida em um momento de tomada de financiamentos, atrapalhou o planejamento dos arrozeiros gaúchos, travando também as renegociações, segundo Dornelles. “Isto poderá agravar a comercialização da próxima safra, pois muitos produtores foram obrigados a buscar dinheiro no mercado privado, que tem um vencimento fixo sempre em abril de cada ano. O fato normalmente acaba acarretando a queda nas cotações e isso pode agravar a descapitalização dos produtores”, reforça.
O dirigente da Federarroz lembra que, mesmo com as renegociações de dívidas, houve um período de adaptação dos bancos, além de altas exigências feitas pelas instituições financeiras aos produtores que tiveram prejuízos na última safra. Dornelles lembra que, apesar da queda na tomada de recursos, os valores de contratações vêm mantendo a estabilidade nos últimos anos. “Em agosto e setembro caíram muito as contratações, pois os produtores menos capitalizados começaram a perceber a influência negativa da necessidade das renegociações e dos problemas de renda que o setor vem enfrentando nos últimos anos. O produtor viu os custos de produção crescer e retirou o mesmo valor de custeio dos últimos anos, tendo uma menor parcela da safra sendo financiada por recursos oficiais”, analisa.
Dornelles salienta que essa percepção de menor renda no cultivo de arroz não é somente sentida pelos gaúchos. Maior prova é o novo decréscimo da intenção de plantio nos demais estados da federação. Conforme dados da Federarroz, em determinado período, houve redução de 40% das vendas de adubos para o setor arrozeiro, enquanto na soja e no milho, por exemplo, houve acréscimo de 20%. Mas, dentro do cenário positivo, o presidente informa que há uma estabilidade de produção em outras regiões produtoras, com tendência de leve baixa na área em países como Uruguai e Argentina. Os estoques ajustados também devem ser uma realidade no próximo ano.
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