“O Voo”
Em “O Voo”, Denzel Washington nos é apresentado como um “excêntrico piloto” (para ser gentil com o protagonista), de nome Whip Whitaker. Apesar de seu inegável talento por trás do painel de comando de um avião, Whip usa como combustível drogas, bebidas e prostitutas. Essa natureza nada ortodoxa é apresentada logo de cara, na primeira cena, quando encontramos o piloto em um quarto de motel com uma garota, drogas variadas e claro, bebidas! Na cena seguinte o vemos anunciando sua despedida para sua companheira: “Tenho que voar um avião”, ele diz, com detalhes em branco no nariz cicatrizando assim o consumo desenfreado de drogas ao qual fora submetido algumas horas antes. Não fosse difícil o suficiente pilotar um avião enquanto entorpecido, um mal funcionamento na aeronave provoca uma das cenas mais eletrizantes do filme. É interessante nesse momento notar a maestria exibida por Robert Zemeckis, que outrora atuando em filmes animados (Expresso Polar, Beowulf), volta com seus velhos truques já exibidos em De Volta Para o Futuro (a saudosa trilogia), Forest Gump (o clássico!) e Náufrago (outro!) para esse live action. A sequência de takes que acompanham Whitaker no processo de virar o avião de cabeça para baixo (manobra necessária para a estabilização da aeronave) é o suficiente para manter o espectador ansioso durante os minutos de menos tensão que se sucedem.
Depois da aterrissagem da aeronave acompanhamos o protagonista em sua queda. Denzel, que é conhecido por suas maneiras mais dramáticas não decepciona ao interpretar com muito exito o período de depressão vivenciado pelo piloto ao ver suas habilidades e talentos questionados não só pela mídia, mas por amigos próximos como o seu traficante (John Goodman) e Nicolle, interpretada por Kelly Reilly (que faz um ótimo papel como coadjuvante), uma mulher com problemas semelhantes aos de Whitaker que acaba se relacionando com o sujeito após conhecê-lo no hospital.
John Gatins, responsável pelo roteiro, não fez um ótimo trabalho. No entanto, não é justo exigir demais de um roteirista quando o filme onde o seu trabalho é requisitado é baseado em fatos reais. Aquelas letrinhas que aparecem antes da execução da obra, anunciando que os acontecimentos ali retratados são verídicos, limitam o trabalho da maioria dos roteiristas, assim como limitaram o de John. Quando o filme é livre das correntes da verdade (para ser poético), não encontramos limites, já nesse caso os diálogos haviam de ser fieis a realidade pois é fácil demais perceber as discrepâncias entre o roteiro da obra e a sucessão real dos fatos. No entanto, como bem sabemos, a realidade nem sempre é empolgante. Na maioria das vezes é bem o contrário e o compromisso de Zemeckis para retratar a realidade com a maior veemência possível é capaz de entediar o espectador mais ansioso e menos paciente, o que não é motivo nenhum para deixar de assistir essa grande obra.
O final deixa a desejar, mas como já dito, também é assim a realidade. O final que assistimos é o final que aconteceu e apesar de insatisfatório, é verídico. O filme serve muito mais como documentário do que qualquer outro gênero cinematográfico e só se percebe isso, no final, quando o diretor escolhe por nos deixar com uma lágrima nos olhos ao invés de um sorriso nos lábios.
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