sábado, 26 de agosto de 2017

Professora vence prêmio e garante continuidade de pesquisa

A professora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) campus Uruguaiana, Pamela Billig Mello Carpes, é uma das sete vencedoras do prêmio “Para Mulheres 2017”, da Fundação L’Oreal em parceria com a Unesco. Pamela venceu com o trabalho “Uma investigação dos efeitos de estratégias neuroprotetoras em um modelo de deprivação maternal”, na categoria de Ciências da Vida.
Ela é formada em Fisioterapia pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz), e trabalha na Unipampa desde 2009, quando chegou ao campus para ser professora substituta. Desde 2010 integra o quadro de professores efetivos da universidade.
Já na graduação, a cruz-altense percebeu o gosto pela área de pesquisa. “Percebi que eu gostava mesmo de disciplinas que envolviam mais a descoberta de como as coisas funcionavam. Então eu comecei, durante a graduação, a me envolver em pesquisa, em iniciação cientifica, na área de fisiologia do exercício, e no fim da graduação eu já comecei a me preparar para seleção do mestrado”, comentou.
Depois de formada em Fisioterapia, Pamela foi para Porto Alegre fazer mestrado e trabalhar com professor Ivan Izquierdo – referência mundial – na área de aprendizagem e memória. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), também já engatou o doutorado, e começou a estudar a temática do projeto que foi laureado com o prêmio. De lá para cá, novas descobertas foram sendo feitas e quando Pamela veio para a Unipampa, retornou a linha de pesquisa. “Durante o mestrado descobrimos que os animais que eram deprivados da presença da mãe nos primeiros dias de vida, mesmo que por curto período, quando adultos, eles apresentavam déficit de memória, não tinham a mesma capacidade de aprender que um animal que não sofria essa depredação”, contou. “A gente viu também que se pegasse esses animais e submetesse a um treinamento de exercício físico de corrida simples, o exercício tinha um papel neuroprotetor. De forma que mesmo deprivado, se o animal fizesse atividade física ao longo da vida, ele não apresentava mais o déficit cognitivo. Só que na época a gente não chegou a tentar entender o porquê que o exercício tinha esse papel, ou exatamente o que estava acontecendo no cérebro desses animais”, explica.
Em Uruguaiana, o grupo de pesquisa coordenado por Pamela voltou a investigar essa relação do exercício e da ausência maternal com a memória. “Nós vimos que aqueles animais que são deprivados da mãe, nos primeiros dias de vida, eles apresentam algumas alterações no cérebro, entre elas alterações da neuroplasticidade, que é a capacidade que o cérebro tem de se adaptar quando ele recebe estímulos externos, é o que faz a gente aprender coisas novas, por exemplo, e também, alterações no equilíbrio oxidativo”, observou. “Então os animais que eram deprivados, eles tinham aumento do estresse oxidativo nas células do cérebro, e isso acaba levando a danos celulares, e até a morte neuronal. Por outro lado, o exercício tem o efeito oposto, ele melhora a capacidade de neuroplasticidade”, complementou.
Participam do grupo de pesquisa alunos de graduação, docentes ou pós-doutores, além de alunos de pós-graduação, de mestrado e doutorado. E ainda alunos de iniciação cientifica júnior, que são estudantes do ensino médio, de escolas públicas de Uruguaiana, que vão ao campus em período contraturno e participam das atividades do laboratório. “Hoje a gente tem duas estudantes da Escola Rondon que estão conosco. Elas acabam desenvolvendo um interesse bem grande para o ensino superior, conhecendo um pouquinho mais da universidade e divulgam isso também entre os colegas”, disse.
Com as atuais cortes na área de educação, os pagamentos dos programas de financiamento de pesquisas estão atrasados, e a pesquisa possivelmente não haveriam mais recursos para ir adiante. O valor de R$ 50 mil que foi garantido pelo prêmio veio em boa hora para dar continuidade nas pesquisas. 

Mulheres na Ciência

Pamela disse que se sente lisonjeada em ter ganho um prêmio que enfatiza a participação de mulheres na ciência. “Quando as pessoas sabem citar o nome de um cientista, sempre é um homem. Muito dificilmente alguém sabe citar o nome de uma cientista mulher. E a gente tem na história exemplos que são muito marcantes. Esse prêmio tem justamente o objetivo de tentar melhorar a participação feminina na ciência, em busca de uma igualdade. Porque as mulheres acabam muitas vezes enfrentando obstáculos na carreira, que os homens não enfrentam”, enfatizou.

Larissa Vargas

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