Jovem conta como foi agredida na “Avenida”

“Eu pedia para que me soltassem porque eu só queria buscar a minha filha do outro lado da avenida” 

A terceira noite do Carnaval Fora de Época de Uruguaiana foi marcada por violência e constrangimento. Diane Oliveira, de 27 anos, foi arrastada pelos seguranças contratados para atuar na Avenida, sofreu puxões de cabelo e ficou com a parte superior do corpo completamente nua diante do público.

A situação ocorreu durante a última apresentação, quando a Cova da Onça já desfilava. Diane estava acompanhada da filha de 11 anos, de uma amiga, e a filha da amiga, de 14 anos. Segundo ela, as meninas estavam do outro lado da avenida. “As meninas foram para o outro lado onde estavam alguns amigos, e nós ficamos no camarote, bebendo. Sem querer, derrubei o copo e caiu na mulher de um policial federal que estava no mesmo camarote. Pedi desculpas, mas ele foi grosseiro, chamou a Guarda Municipal e “mandou” nos retirarem do local. Os guardas pediram para nos contermos a fim de evitar mais transtornos, mas que podíamos ficar, e foram embora. Nesse momento o policial fez uma ligação e então apareceram quatro seguranças ordenando que eu me retirasse, conta.

Diane relata que não resistiu e disse aos seguranças que sairia espontaneamente, mas precisava buscar a filha do outro lado da avenida. “Eles já começaram a me agredir, me seguraram e eu gritava ‘me soltem, preciso pegar minha filha’. Então, me joguei no chão tentando me soltar, mas elas me agrediram ainda mais”, disse.

Ela nega que seja usuária de drogas como afirmado pelo secretário de Segurança e Trânsito Vítor Gediel Machado, e diz que tomará providencias para que a agressão sofrida não fique impune. “Sei de outras pessoas que foram agredidas pelos seguranças; no meu caso, repercutiu, inclusive porque foi na frente do camarote da Imprensa. Não quero aparecer, mas já que se tornou público dessa forma, quero que sirva para que essas pessoas não fiquem impunes. Se eu estava cheirando cocaína como afirmou o Secretário, porque o policial que estava lá não me prendeu? Isso é o que mais está me constrangendo; minha filha estuda e está passando por constrangimentos na escola. Não sou viciada, não uso drogas e fui agredida; sofri uma injustiça”, completou. 

No meio da confusão, a jovem acabou sem a jaqueta e sem a camisa que usava. “Eles pegaram minha bolsa e, enquanto eu me debatia, acabaram tirando minha jaqueta e então eu tirei a blusa que já estava toda rasgada pelos seguranças”, conta.

Nua e no chão, ela continuou tentando se desvencilhar dos seguranças, mas foi impedida. Com a chegada da Guarda Municipal e da Brigada Militar, o tumulto aumentou por conta das tentativas de cercear o trabalho da Imprensa, que documentava toda a ação. Alguns jornalistas, inclusive, foram agredidos e um quase teve seu equipamento arrancado das mãos por um policial militar que acabara de ingressar na corporação. Também sob “comando” de uma integrante da Comissão do Carnaval, os seguranças tentavam, aos empurrões, retirar os jornalistas da Passarela do Samba.

Diane é estudante universitária e trabalhava no comércio, agora está em repouso em casa, pois diz ter ficado bastante machucada. “Estou com muita dor, com arranhões e hematomas pelo corpo e na cabeça”. Ela foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhada ao Pronto Socorro Municipal.