segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Aprovados em Medicina recorrem à Justiça

Karine Ruviaro

Imagina você comemorando a conquista de uma vaga de Medicina em uma Universidade Federal e alguns dias depois descobrir que tudo não passou de uma ilusão. Pois é, esse é o caso de boa parte dos candidatos aprovados pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) para o curso de Medicina, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), de Uruguaiana.
O caso
Acontece que por uma ação judicial ajuizada junto à 3ª Vara Federal de Rio Grande, o juiz federal substituto, Cristiano Estrela da Silva, concedeu a suspensão das matrículas do curso e reabertura do prazo de inscrições. A ação foi movida por Lucas Chaves de Medeiros, com a justificativa de que prestou a prova do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) visando ingressar em um curso de Medicina e sua nota final foi de 742,2.  Ele teria pesquisado sobre o “Instrumento de inclusão regional” e visto que sua cidade não estaria na lista, logo, ele não teria o acréscimo de 20% em sua nota e ficaria abaixo do ponto de corte. No mesmo dia, ao final da tarde, foi divulgada uma nova resolução (nº 166/2017) que incluiu sua cidade e algumas outras na lista, onde o mesmo conseguiria passar da nota de corte exigida. Afirmou que a resolução não foi amplamente divulgada e desta forma, ficou prejudicado – não realizando a inscrição. Assim como ele, outras pessoas também solicitaram a mesma medida de suspensão.
O coordenador acadêmico da Unipampa, campus Uruguaiana, Edward Pessano, comentou sobre o caso. “Nós conseguimos manter a vaga de cotas. Das 60 vagas ofertadas, 31 foram mantidas para aqueles alunos que são cotistas e as outras 29 - que são de ampla concorrência-, estão sendo novamente disputadas no novo edital. Existe a possibilidade desses 29 serem os mesmos da lista anterior e pode ser que novos alunos apareçam nesse processo. Infelizmente, esses alunos da primeira lista não tem vaga garantida ainda, eles terão que concorrer novamente”, finaliza Pessano.
O sonho destruído
A caloura de Medicina, Sarah Luiz Brum, de 19 anos, natural de Bagé, é uma dos 29 estudantes prejudicados pela ação. O sonho da Medicina nasceu na época de escola.  “Escolhi a medicina porque comecei a pesquisar muito sobre o assunto, especialmente na época do ensino médio. Fui com meu tio, que é otorrino, assistir a algumas cirurgias e eu, simplesmente, achei o máximo. Desde então, me descobri apaixonada por isso”. Ela comenta que optou pelo curso da Unipampa, pois além de ter o instrumento de inclusão – pelo qual concorreu, a Universidade seria bem conceituada. “Coloquei como primeira opção a Unipampa e como segunda a FURG (Universidade Federal de Rio Grande), mas como estava classificada na minha primeira opção, fui automaticamente eliminada da disputa pela FURG”, comenta.
Após dois anos de cursinho e muita dedicação, a tão sonhada aprovação chegou. “Foi uma felicidade gigantesca, também porque não precisaria pagar por uma universidade”. Contudo, a alegria da aprovação logo foi substituída por medo e ansiedade. “Dois dias após saber do resultado positivo da aprovação, fui para Pelotas cancelar minha matricula em medicina na Ucpel (Universidade Católica de Pelotas). No entanto, depois de saber de tamanha injustiça, ou melhor, sem entender o motivo pelo qual as matrículas estavam suspensas, fiquei muito abalada. Sem acreditar no que estava acontecendo, uma vez que isso nunca aconteceu na história do SISU”, avalia.
Filha de advogado, Sarah contou com o auxílio do pai, Jerri Brum, para entrar com uma ação e um mandado de segurança coletivo contra a Unipampa. “Quando fomos nos aprofundando e descobrindo o que, de fato, estava acontecendo, entramos imediatamente com um mandado de segurança coletivo, no qual 16 aprovados participaram e dois da lista de espera. Estamos, ainda, esperando a Universidade se manifestar - e parece que não vai se defender”.  Segundo ela, os mandados de segurança já foram encaminhados e serão julgados até o dia 23/2. Entretanto, outras três pessoas já teriam entrado com processos semelhantes, mas alguns já teriam sido indeferidos. A estudante comenta sobre o novo processo. “Fui aprovada em 9° lugar e tive direito apenas duas opções, diferentemente daqueles que vão começar a se inscrever hoje, no novo e absurdo processo seletivo da Unipampa”.                       
Sarah, já havia se inscrito para o curso de Medicina da Unipampa no ano passado, entretanto, não conseguiu a vaga. Ela fez outros vestibulares, o da Ucpel e UPF (Universidade de Passo Fundo), onde foi chamada no final do ano passado na Ucpel e no dia 8/2 na UPF.
Outra candidata também está sofrendo com a ação da Justiça Federal.  Joana Marques Maia Souza, 22 anos, natural de Rio Grande - uma das cidades incluídas na resolução nº 166/2017 também se candidatou nas vagas de ampla concorrência.
Depois de seis anos em busca de uma vaga, ela finalmente conseguiu. “Assim como todos os vestibulandos ao receber a notícia da aprovação fiquei sem palavras. No momento que soube da ação, não acreditei no que estava acontecendo, não entendia - e ainda não entendo - como um menino que sequer participou da seleção conseguiu suspender um concurso público já finalizado”, comenta. Assim como os vários outros estudantes, ela pretende ingressar com uma ação na Justiça para garantir a sua vaga. “Este ano só fiz o Enem. Como coloquei a Unipampa como primeira opção e fui aprovada, não obtive a classificação da outra universidade. Vou lutar pelos meus direitos”, expõe.
A caloura de Medicina fala sobre o período de inscrições. “Quando as inscrições do Sisu abriram coloquei direto Furg e Ufpel. Entretanto, no dia seguinte fui pesquisar as vagas em outras universidades e coloquei a Unipampa para ver como ficaria minha classificação. Como fiquei classificada continuei a deixar como primeira opção Uruguaiana. Terminei em 21º lugar. Escolhi Uruguaiana, pois sabia que o curso era novo lá e também por ser no mesmo estado em que resido”, salienta a estudante.
Questionada sobre a divulgação da nova resolução, Joana comenta que “lembro que vi em um portal de notícias, que cinco ou seis universidades adotariam bônus para candidatos da região, nessa reportagem continha a Unipampa. Quando me inscrevi na Unipampa vi que realmente tinha a opção de bonificação então fui pesquisar quais eram os pré-requisitos para ter direito a esse bônus. Entrei no Facebook da instituição e vi a notícia da inclusão. Então, entrei no site da universidade e no site disponibilizado para dúvidas acerca do Sisu para confirmar. Encontrei os editais da inclusão regional e vi que Rio Grande estava entre as cidades contempladas”, declara.
Ela ainda diz acreditar que os candidatos que entraram com a ação agiram de má fé. “O fato deles alegarem que não houve divulgação da inclusão regional é infundável, visto que eu e outro colega, Fabrício, fomos aprovados. Além disso, há cerca de seis ou sete aprovados em Pelotas, mesma cidade que o Lucas (que entrou com processo) estudou. O que eles requeriram e o juiz concedeu fere a isonomia de todo o Sisu, uma vez que, agora, todos aqueles que estão nas 28 cidades poderão candidatar-se a uma vaga. Desse modo, além da 1 e da 2 opção no Sisu, terão ainda mais essa chance, pois o novo processo será feito pelo site da Unipampa. Além disso, há aquelas pessoas que estão concorrendo com alguma cota na primeira opção e que agora também podem concorrer e entrar na lista de espera pela ampla concorrência. Tudo isso, torna esse novo processo injusto e incompreensível”.
Procurado pela equipe de reportagem do Jornal CIDADE, o procurador federal, Paulo Michelsen  junto à Unipampa, não se encontrava mais nas dependências da Instituição em Bagé, visto que o turno de trabalho já havia terminado. Ao pai de Sarah, Jerri Brum, o Procurador Federal informou em uma troca de e-mails que há o desinteresse em cassar a decisão imediatamente. Em princípio, eles aguardariam mais alguns dias para verificar se alguma medida recursal seria tomada.

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