quinta-feira, 13 de abril de 2017

Lava Jato chegou a Uruguaiana


As delações de ex-executivos da Odebrecht motivaram a abertura de 76 inquéritos contra políticos e autoridades no âmbito da Operação Lava Jato. O relator da Operação no Tribunal, ministro Edson Fachin foi quem determinou a instauração dos inquéritos, bem como derrubou o sigilo de 83 pedidos de investigação. Duas das investigações, porém, foram mantidas em sigilo pelo Ministro, de acordo com a assessoria do STF.
A lista de investigados foi tornada pública ainda na noite de terça-feira, 11/4, causando pânico, inclusive em Uruguaiana. Dez políticos locais estão entre os investigados, inclusive o prefeito Ronnie Mello (PP), o ex-prefeito Luiz Augusto Schneider (PSDB) e o deputado estadual Frederico Antunes (PP).
Por não terem o foro privilegiado (regalia de serem julgados pelo STF), os dez políticos, assim como governadores, secretários e prefeitos, por exemplo, tiveram pedidos de investigação enviados ao Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4).
Serão investigados o prefeito Ronnie Peterson Colpo Mello (PP), os vereadores Josefina Soares Bruggemann (PP) e Rafael da Silva Alves (PMDB), o ex-prefeito Luiz Augusto Schneider (PSDB), os ex-vereadores Antônio Egídio Rufino de Carvalho (Rede), Jussara Osório de Almeida (Rede), Francisco Azambuja Barbará (PSDB) e IIson Mauro da Silva (PMDB) e ainda o radialista e ex-candidato a vereador Luiz Fernando Franco Malfussi (PSDB), além do deputado federal Frederico Cantoni Antunes (PP).
 
Ronnie Mello
Em nota, Ronnie Mello disse ter sido “pego de surpresa, com a ligação de algumas pessoas falando que meu nome estava numa lista. Desde aquele momento estamos buscando informações mais concretas sobre o que se trata, sobre o que dizem nessas declarações, assim esclarecer e restabelecer a verdade! Tão logo obtivermos essas informações, estarei adotando às medidas judiciais cabíveis. Para dessa forma, eu poder esclarecer os fatos para a comunidade de Uruguaiana, pela qual, eu dedico muitos anos da minha vida”.
Na nota, Mello também destaca as ações rigorosas na fiscalização e acompanhamento do contrato e das obras da empresa Odebrecht Ambiental em Uruguaiana, bem como os apontamentos por parte da comissão municipal responsável pela fiscalização.

Luiz Augusto Schneider
O ex-prefeito Luiz Augusto Schneider disse estar buscando mais informações sobre as delações, mas adiantou que acredita tratar-se de uma bem elaborada estratégia da empresa, a fim de desviar o foco da Operação Lava Jato para os municípios, com o objetivo de enfraquece-la. “Os delatores falam em uma contrapartida a um grupo político e de formadores de opinião, integrantes de vários partidos, mas não há motivos para que tenha ocorrido essa contrapartida. Uruguaiana iniciou o processo licitatório para definição da concessionaria em 2007 e o contrato foi assinado em 2011, após um processo com cinco ofertantes, que foi amplamente discutido e auditado e trata-se de um contrato de difícil decisão, que não depende de vereador, prefeito, tampouco candidatos. Essa ação visa mudar o foco da operação Lava Jato, ampliar a abrangência geográfica da mesma e transformar as ações em alto mais lento. Pessoalmente que fico triste de ver meu nome envolvido nisso, mas vamos esclarecer essa história”, disse ele.

Frederico Antunes
Também em nota, o deputado Frederico Antunes disse que “as pessoas sabem discernir o certo do errado. Como homem público devo todas as explicações à sociedade gaúcha e as darei, como sempre em minha vida pública. Estou buscando junto aos órgãos competentes, o que de concreto é referido onde meu nome é citado nesse tema. Para evitar leviandade, assim que eu tiver acesso a esse material onde consta meu nome, irei prestar todas as informações necessárias”, disse.

Mauro Brum
Mauro Brum ressaltou que nunca teve nenhuma ligação com a empresa Odebrecht. “Nunca me reuni, só conheço membros da empresa das audiências públicas e discussões públicas sobre o serviço prestado em Uruguaiana. Sempre fui claro quanto a meu posicionamento em relação à empresa. Estou chocado em ver meu nome ali. Nunca falei com ninguém da empresa, nem por telefone”, disse.

Vereadores
A falta de informação quanto ao conteúdo das delações, no que diz respeito a seu nome, também foi destacado por Malfussi, que se colocou à disposição para qualquer esclarecimento que se julgar necessário, tão logo tenha conhecimento específico sobre o tema.
Com exclusividade ao Jornal CIDADE, Kiko Barbará lembrou que “a Câmara de Vereadores nunca votou quem assumiria o serviço de água e esgoto no município, mas sim a abertura do processo licitatório. Isso em 2009. O que se fala é que as supostas doações seriam de 2012, três anos depois, o que não tem cabimento algum”, e completou: “Coloco os meus sigilos telefônico, cibernético, bancário e fiscal à disposição e quem investigar não encontrará nenhum centavo que não seja fruto de meu trabalho”.
Egídio Carvalho disse não haver nenhum vínculo que justifica estar na ‘folha de pagamento’ da Odebrecht. “Quando a empresa precisou do voto favorável para instalar-se em Uruguaiana, eu não era político. Era – e sou – um profissional de comunicação e meu único contato com a empresa foi um contrato de patrocínio de um programa de televisão, como profissional de comunicação. Meu patrimônio continua o mesmo que em 2012”, disse.
Rafael Alves (PMDB) disse ter recebido a notícia com surpresa. “Reunido com meus aliados e apoiadores, ainda na terça-feira, a única explicação a que chegamos foi que, até setembro de 2013, eu fazia parte do partido que trouxe a empresa para Uruguaiana. Se houve algum benefício ao partido, não tenho conhecimento, mas certamente não chegou a mim. Não recebi dinheiro, não tenho nenhum envolvimento com isso e buscarei provar isso na forma da lei”, disse.
Josefina Soares (PP) foi procurada pela reportagem do Jornal CIDADE, mas estava com os telefones desligados. Já Jussara Osório (Rede) não atendeu ou retornou nossas ligações até o fechamento desta edição.

Odebrecht
A Odebrecht S.A. enviou nota ao Jornal CIDADE dizendo que é responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos feitos pelos seus executivos e ex-executivos, e está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países onde atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.
Gabriela Barcellos

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