quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Abundante em Uruguaiana, o ipê poderá ser usado para combater leucemia


Uma das árvores mais características de Uruguaiana, o ipê poderá se tornar um importante aliado no tratamento de leucemia, tipo de câncer que afeta os glóbulos brancos, células responsáveis pelo sistema de defesa do organismo. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) produziram três moléculas derivadas da árvore nativa do cerrado que são capazes de atuar sobre glóbulos brancos cancerígenos, sem afetar as células saudáveis. 
A descoberta poderá ser o caminho para a criação de medicamentos específicos para o tratamento de diferentes tipos de leucemias. O trabalho foi publicado na revista científica European Journal of Medicinal Chemistry.
Os pesquisadores criaram as moléculas da união do núcleo das células de outras duas substâncias - uma delas derivada do ipê - e as testaram em quatro linhagens diferentes de leucemia: duas de linfoide aguda, mais comum em crianças e com prognóstico melhor; e duas de mieloide aguda, mais rara, mas responsável pelos casos mais graves. 
Dos 18 compostos criados, três se mostraram mais potentes e com seletividade maior - atacaram as células cancerígenas e, em menor grau, as células saudáveis. E, principalmente, tiveram comportamento diferenciado em relação às linhagens de leucemia. Uma delas se mostrou 19 vezes mais potente sobre células de leucemia linfoide do que sobre as de leucemia mieloide. 
“É a primeira vez que se investigam as moléculas oriundas dessa estratégia de junção de núcleos em diferentes linhagens de leucemia. E o mais importante é conhecer esse perfil de atividade de acordo com a linhagem. A leucemia é um dos tipos de câncer que mais afetam crianças e, por trás dela, se esconde uma grande diversidade de doenças. O grande problema da terapia é a falta do medicamento específico para cada tipo de leucemia”, afirma o farmacêutico Floriano Paes Silva Junior, chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do IOC.
Natural
As moléculas foram preparadas pelo grupo coordenado pelos pesquisadores Fernando de Carvalho da Silva e Vitor Francisco Ferreira, da UFF, com base no núcleo das células de duas substâncias. Uma delas é derivada de um produto natural extraído do ipê. Esse núcleo pertence à classe química das quinonas. “O que nós queremos é matar as células malignas, mas as quinonas costumam ter baixa seletividade, ou seja, matam também as células saudáveis”, disse Silva Junior.
Os cientistas combinaram, então, o núcleo da quinona com o de outra molécula, chamada triazol, que tem a capacidade de atingir somente as células cancerígenas. Silva Júnior ressalta que esse é o “primeiro passo” para a criação de um fármaco. Mas testes e análises ainda devem levar pelo menos dez anos.

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