terça-feira, 18 de outubro de 2016

Santa Casa persegue funcionários que reclamam do caos

Mesmo com dois meses de salários atrasados, reclamações contra dirigentes sindicais e administração vira motivo para demissão sumária 


Daiany Mossi

É grave a crise no hospital Santa Casa de Caridade de Uruguaiana. Além dos salários atrasados, o hospital apresenta a falta de medicamentos, de materiais de uso diário e da inoperância de equipamentos importantes, como o aparelho de tomografia, estragado há mais de dois meses. Na quinta-feira, em virtude dos salários atrasados, os funcionários do hospital trabalharam com uma tarja preta no braço. O protesto também ganhou as redes sociais, onde alguns manifestaram insatisfação com a administração do nosocômio e a atuação do Sindicato da categoria, que sempre se apresenta em sintonia fina com o administrador, em defesa do hospital, relegando a segundo plano a defesa dos trabalhadores. Em postagens, alguns funcionários dizem que o Sindicato não os representa e que o pró- prio hospital desrespeita seu quadro funcional. “Estamos indignados. O presidente do SindiSaúde sequer nos atende”, disse um dos descontentes. Demissões Na manhã de ontem, após os protestos, dois funcionários foram demitidos sem justa causa. Segundo eles, as demissões foram em represália às postagens nas redes sociais. “Hoje, por ordem administrativa, fui desligado da Santa Casa de Uruguaiana, eles entendem que algumas postagens denegriram a imagem da instituição, mas com nossa imagem eles não se importam”, disse um dos demissionários em sua página virtual. Nossa reportagem tentou contato com o presidente do SindiSaúde, Renato Corrêa, mas não obteve retorno. Já o administrador da Santa Casa de Caridade, Geovane Cravo, através da sua assessoria de imprensa, não desmentiu a perseguição aos funcionários, tampouco a falta de medicamentos e manutenção do tomógrafo. Ratificando Nota divulgada na última quarta-feira, 12/10, culpou os governos do Estado e Município pela crise da Instituição decorrente do atraso constante nos pagamentos pelos serviços prestados, confirmando que o mau atendimento já começa a preocupar a Provedoria e a Administração do maior hospital da região da fronteira oeste. Cravo confirma que o hosítal já está suspendendo cirurgias eletivas por falta de materiais e medicamentos. Por outra banda, informou o Administrador que o departamento jurídico, em cotejo com o Ministério Público, se manifestou em contrarrazões de apelação ao recurso que suspendeu o bloqueio das contas do Estado, informando que o contrato vencido em julho foi renovado em setembro do corrente ano, pelos mesmos valores, e que jamais houve interrupção no atendimento pelo Sistema Único de Saúde, que hoje absorve 96% da carga de trabalho do nosocômio. Também lamenta o administrador que o prefeito Schneider não honre os compromissos assumidos com a Instituição pela prestação dos serviços do Pronto Socorro Municipal. Não é só a Santa Casa, mas diversos credores do município só recebem mediante sequestro judicial, e graças aos sequestros, estão inadimplentes hoje apenas os valores de agosto e setembro de 2016. Existe a expectativa de que o judiciário determine novo sequestro nos próximos dias e consiga “capturar” algum valor para a Santa Casa. A situação é tão grave que se não houver aporte financeiro imediato, não há maneira de pagar os quase 700 funcionários do Hospital, e sem sombra de dúvidas, isto comprometerá ainda mais o atendimento à população.

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