Na análise da entidade, diversas situações que complicam os custos aos produtores foram ignoradas nos levantamentos
Crédito: Fagner Almeida |
O estudo divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a evolução dos custos de produção e rentabilidade do arroz irrigado gaúcho nos anos-safra 2006/2007 a 2016/2017 trouxe dados que da forma como foram expostos não condizem com a realidade da produção no Estado e do setor arrozeiro na atual conjuntura. A avaliação é do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Conforme o dirigente, os problemas estão também na contextualização em relação ao mercado mundial.
O presidente da Federarroz salienta que o trabalho desconsidera a premissa do título que seria a de refletir a situação do Rio Grande do Sul, que produz mais de 70% do grão no país. Dornelles lembra que, enquanto o estudo aponta uma produtividade em torno de 6 mil quilos por hectare para o país no comparativo mundial, o Rio Grande do Sul produziu 7,7 mil quilos por hectare na última safra, sendo que os gaúchos, em mais de um milhão de hectares, possuem a sexta maior produtividade do mundo, enquanto os demais competidores, excetuando-se os Estados Unidos, possuem área inferior à do Estado brasileiro. “Enquanto o trabalho é sobre o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, a Conab não expressa a elevadíssima eficiência gaúcha”, ressalta.
Dornelles avalia também que o estudo não traz nenhum comentário sobre o aumento da energia elétrica, um dos principais vilões do custo de produção do arroz, que nos últimos três anos subiu mais de 100%. Na avaliação de rentabilidade, o presidente da Federarroz reforça que foi feita uma média aritmética simples do preço no ano e não considerou média ponderada conforme o comportamento de oferta dos produtores. Além disso, o trabalho não considera o custo do arrendamento ou mesmo de oportunidade da terra, que na análise do dirigente, fazem toda a diferença entre estar positivo e negativo na atividade. Sob esse aspecto, facilmente se verifica, segundo dados, que em poucos anos houve renda na atividade.
Conforme o dirigente, necessariamente a Conab deveria fazer uma ressalva aos gestores que formulam as políticas públicas em função de que o arroz irrigado do Rio Grande do Sul possui altíssimo desembolso e custos fixos que exigem do produtor um regime de caixa extremamente profissional e disciplinado, o que foge muitas vezes das características dos produtores rurais. Além disso, poderiam argumentar que a grande volatilidade dos preços, inerentes da fluência dos demais países do Mercosul, com custos de produção mais baixos, tornam a atividade de alto risco. “Todas estas questões negativas que depreciam o setor e que jogam o produtor em situações delicadas foram ignoradas. Ratificamos que o trabalho foi superficial, tende a não valorizar as qualidades da produção do arroz irrigado do Rio Grande do Sul e não menciona dificuldades fora da porteira e que influenciam diretamente na rentabilidade do arrozeiro”, observa.
Entretanto, Dornelles reconhece que a pesquisa da Conab trouxe pontos positivos, como a reiteração da Federarroz em relação às operações de máquinas e implementos agrícolas, que possuem uma relevância nos custos de produção do arroz, não poderem ser comparadas com os mesmos coeficientes de culturas como a soja, o milho e o trigo porque as condições de operação em solo de lavouras irrigadas é muito mais dura e crítica, o que faz aumentar os custos de manutenção, o que incoerentemente, não foi corrigido nas tabelas modais de custo. “Positivamente, houve uma consideração da Conab em relação aos pacotes tecnológicos, ou seja, que os avanços estão contribuindo para eventuais ganhos, o que é positivo ao setor, e o órgão ratifica este rumo”, destaca.
Outro ponto positivo segundo o presidente da Federarroz é que o estudo mostra que os preços têm forte relação com a posição geográfica. «Eles fazem menção à praça de Pelotas, próxima ao Porto de Rio Grande, o que mais uma vez colabora com as atitudes da Federarroz e ratifica que a exportação valoriza o produto no mercado doméstico pelo escoamento do grão e o pagamento de preços melhores pelo mercado internacional”, enfatiza.
Nestor Tipa Júnior
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