terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mãe volta à cena do crime e faz revelações sobre o assassinato da filha e os demônios de Moisés

17 dias após o assassinato da filha, dona Vera Lúcia voltou a casa onde Kelly foi assassinada brutalmente pelo companheiro Moisés Gustavo da Costa Moreira, o Zé Gotinha. O Jornal CIDADE acompanhou dona Vera e conta agora detalhes da volta da mãe à cena do crime.

Quinta-feira, 23 de agosto, 15h. Dona Vera Lúcia Correia voltou à casa de sua filha Kelly Cristina, acompanhada de uma amiga. Foi a primeira vez que ela esteve na cena do crime após os fatos. Ao lado da porta, pelo lado de fora da casa, cobertores ainda sujos de sangue antecipavam a dramaticidade que encontraríamos lá dentro. Dona Vera reluta ao abrir a porta e esboça um misto de nervosismo e dor. Ao entrarmos na casa, fomos logo ao quarto das crianças. A maioria dos móveis já havia sido retirada pelos irmãos da vítima que aconselharam dona Lúcia a se desfazer o quanto antes da casa e dos objetos que lembrem a tragédia.

Duas camas de solteiro, colchões velhos e um vestido de boneca – isso foi tudo o que restou a Eduarda, Kerolin e Leandra, filhas de Kelly. O quarto escuro parece falar, assim como cada canto da casa da vítima. “Meu Deus. O que este homem fez com a minha filha. Ela queria tanto melhorar de vida, dar uma boa educação às filhas, no entanto, não teve a chance de ver as filhas crescerem”, disse Lúcia, ainda no quarto das netas. No quarto do casal, as manchas de sangue confirmam a ação monstruosa. A peça vazia e também escura apresenta pequenas manchas no chão e também em uma das paredes. “Ele é um mostro. Matou minha filha e pelo jeito também mataria minhas netas. Ele tenta alegar loucura, mas louca fui eu ao não perceber que ele era um monstro e que jamais deveria ter se aproximado de Kelly”. O cenário lutuoso levou Vera ao desabafo: “fiquei sabendo de muitas depois que Kelly morreu”, disse com voz tremula e lágrimas nos olhos.

As revelações
Vera Lúcia contou que a filha vinha sendo agredida já há algum tempo e que quando dizia que ia embora, era ameaçada de morte. “Ele dizia que ia matar as meninas, que mataria a mim e aos irmãos da Kelly. Quando ela dizia que chamaria a Polícia, ele debochada e a agredia com facas e tesouras. Minha neta de 10 anos viu muita coisa e agora nos conta tudo o que vinham sofrendo”. A menina de 10 anos é Eduarda - foi ela quem pediu socorro e evitou que "Zé Gotinha" matasse a todos na casa. “A Eduarda está impressionada. Ela se abriu conosco e decidiu falar. Disse que o pai a mordia quando ela se saia mal na escola ou teimava com ele. O caderno da Eduarda é todo marcado a facadas. Ela está traumatizada e tem muito medo que ele venha a ser solto”. Para a mãe de Kelly, Gustavo havia planejado o crime. “O encontrei na rua dias antes do crime. Ele me pediu para tomar conta de Kerolin e disse que iria trabalhar na safra da maça. No dia seguinte vim à casa de Kelly, e ela disse que não tinha intenção de abandonar a filha e que não sabia o porquê "Zé Gotinha" havia dito isso. Ele chegou, sempre irônico, se fazendo de bonzinho e me chamando de sogrinha. Disse que era brincadeira e que eles estavam bem e eu acreditei”, falou. Segundo Vera, o assassino sumiu com as certidões de nascimento das duas meninas mais velhas e com várias roupas dele e das crianças. “Ele ia matá-las. Estava com tudo planejado e os vizinhos comentaram conosco que naquele dia, um pouco mais cedo, ele dizia a ela, pelo pátio, que naquela noite haveria uma tragédia”. A outra filha de Vera também mora no pátio, com entrada separada, mas com visão nítida a casa irmã, e disse ter visto várias discussões, mas nunca quis se meter. “Ela disse que escutava a irmã chorar e gritar, mas não imaginava que o caso era tão grave e que chegaria a este ponto”.

Ao sair da casa, fechando a porta lentamente, Vera sussurra: se a Lei do homem falhar, a de Deus fará a sua parte. O grande medo da família de Kelly é de que Gustavo consiga alegar insanidade mental e volte às ruas e ao convívio das meninas.

Os demônios de Moisés
Os vizinhos de Kelly assistiram a tudo. Foram eles que escutaram os gritos de socorro de Eduarda e invadiram a casa evitando uma tragédia ainda maior. Ao ser retirado da casa por populares e ao perceber a chegada da Brigada, Moisés despiu-se e foi à frente de uma igreja localizada na mesma calçada de sua casa. Aos gritos, segundo os vizinhos, Moisés dizia estar possuído por demônios e pedia a Deus que deixasse as forças malígnas tomarem conta de sua alma. “Foi uma cena de filme de terror. Era como se o diabo estivesse em seu corpo, ele gritava, falava em demônios e derrubava ódio”, disse uma vizinha. O outro vizinho vai além ao falar da cena. “Os demônios que invadem o corpo dele têm nome – crack. Ele é um viciado desgraçado que merece apodrecer na cadeia”, finalizou.

O crime aconteceu por volta das 23h do dia 6 e, segundo os relatos das crianças e dos vizinhos que escutaram as discussões, a mulher estava amamentando a filha de 6 meses quando o marido chegou à casa e ordenou que ela desligasse a luz, ao que teria respondido que estava amamentando. Depois disso, Kelly começou a gritar e a filha do casal saiu pela porta da frente, atrás de socorro. Quando os vizinhos invadiram a casa, ele ordenava que se afastassem, pois ele queria sangue e matar todo mundo. Um homem armado de revólver conseguiu contê-lo, colocou Kelly num carro e a levou ao hospital. A jovem morreu poucas horas depois, pois os ferimentos provocados por uma das facas de cozinha foram profundos e impossibilitaram o socorro. As filhas de Kelly estão com a avó materna, euquanto o menino do primeiro relacionamento da jovem mora com os avós paternos. Segundo a mãe da vítima, Eduarda enfrenta a dor em silêncio, desabafa com uma vizinha e chora sempre que está sozinha. Leandra, de 4 anos, chora de saudade da mãe e tem pesadelos. Kerolin chora pelo peito da mãe, não aceita a mamadeira e esteve doente nos últimos dias. As crianças, segundo Vera, passarão por tratamento psicológico.

Vera Lúcia é uma dona de casa que criou os filhos com dignidade, sem pensar que o crime atingiria sua família através de um amor platônico vivido pela filha com um traficante. Kelly Cristina Correia de Almeida, 28 anos, conheceu o seu assassino há mais de dez anos. Ela já tinha um filho quando se envolveu com o traficante e ao casar-se com ele teve outras três crianças, todas elas mulheres. Kelly encontrou em seu amor, o seu cruel assassino.

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